quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Eu e umas saudades infantis


Começo logo dizendo que tenho saudade, mas essa não é de alguém, se não de mim mesma. É tenho mesmo saudades de mim. Refiro-me àquele tempo que cada um teve na vida, o tempo da infância e suas maravilhas. Bom era ser assim. Ser adulto dá muito trabalho e por isso tenho saudades:

Saudades de dizer o que vem na cabeça e deixar que a mãe sinta vergonha - adulto tem pensar demais para falar se quiser se conhecido como prudente ou responsável.

Saudades de só querer perto quem eu gosto, sem medo de dizer: “você é chata!” – adultos não podem fazer isso: têm que conviver com quem não quer ou mesmo ser sempre agradável.

Saudade de achar que todos me querem bem e que vão me cuidar - os adultos sabem que não é bem assim e por isso vivem sob vigilância, desconfiando de todos.

Saudades de achar que os amigos são nossos companheiros leais, que são para sempre - adultos sabem que os amigos podem trocar anos de amizade por alguma coisa que lhes seja interessante, portanto amizade não é para sempre.

Saudades de ser ingênua e fazer brotar nos outros um sorriso que surge quando se responde a alguma coisa dessa forma - adulto não pode ser ingênuo, caso contrário sofrerá chacotas, passará a imagem de bobão e será enganado.

Também tenho saudades dos meus amigos imaginários e de achar que esse era o maior segredo da minha vida - os adultos tem muitos segredos e mistérios, não podem ter amigos imaginários pois tem que ser objetivo ou então isso é esquizofrenia.

Tenho saudades de achar que o sucesso na vida era tirar notas boas e fazer minha família se orgulhar de mim por isso - adultos precisam ter o melhor emprego, o melhor salário, a melhor casa e talvez ainda não consigam deixar a família orgulhosa.

Saudades tenho de achar que cada dia eu poderia ter uma profissão diferente e que seria feliz em qualquer uma delas - adultos sabem que a profissão que faz feliz é aquela que faz ganhar dinheiro, também sabem que certas ocupações são difíceis de alcançar porque tem uma concorrência a se vencer.

Saudades também de sonhar conhecer as pirâmides do Egito, a muralha da China, o Coliseu, ser mãe, titia - adultos sabem que para tudo isso uma só coisa é preciso: dinheiro.

Uma última saudade, não menos importante: saudades de chamar Deus de Papai do Céu e Maria de Mãezinha do Céu - adultos acham que religião é uma fraqueza ou que por ser adulto não se pode chamar Deus e Maria daquela forma.

Quer saber mais porque tenho essas saudades? Ser adulto gasta muita energia, muita alma, muita fala, muito sonho, muito espírito. Ser adulto é pouco simples e nenhum pouco prático. Não é à toa que os adultos estão doentes e transmitem essa doença às crianças, já que agora elas têm que ser as melhores da sala, do futebol, do inglês, o (a) mais bonito(a), inteligente, rebolar como um adulto e imitá-los ao máximo. Por favor adultos, larguem de serem pirralhas e deixem às crianças o direito de quando adultas sentirem também essas mesmas saudades infantis.

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